quinta-feira, 8 de novembro de 2012


A vida me fez Vasco e eu fiz do Vasco a minha vida!



     Ser Vascaíno é algo tão especial e importante que mereceria até um registro na identidade.
     O vascaíno é diferente de todos os demais torcedores, porque o Vasco é diferente de todos os outros clubes.
  Torcer para esse clube é muito mais do que simplesmente vangloriar-se das inúmeras vitórias ou contabilizar troféus. Ser Vascaíno transcende os limites materiais. Não se trata de ter um escudo crivado por glórias no lugar do coração. Ser Vascaíno é ter uma Cruz De Malta tatuada na alma. É mais do que ter um clube do coração, é ter um propósito, um ideal de vida. É selar um compromisso irrevogável com a luta pelo justo.
   Tu, Vasco, não nasceste em berço esplêndido como teus co-irmãos. Foste criado no subúrbio, cresceste em meio aos pobres, aos negros, aos operários, aos renegados, aos marginais. Não tens o Cristo pela frente a abençoar-te porque já vieste ao mundo abençoado pela Cruz que reluz em teu peito. Não foste acolhido pelos abastados, mas acolheste sob teus braços toda qualidade de gente.
   Ahh… meu Vasco querido, de grandeza imensurável, não importa o recorte que se faça da história, ou o tempo em que te olhem, só é possível enxergar-te imenso. Fecho os olhos e lembro-me do que não vivi.
   Vejo agora pela frente as temidas Camisas Negras, que mudaram o curso da história. Trouxeste, àquele tempo, a novidade. Não eras um time de “Players”, não disputavas os “Matchs” contra seus rivais. Vieste à cena ensinar que o jogo é jogado por jogadores, vieste com a missão de popularizar o esporte. Respeitavas e, ao mesmo tempo, equalizavas as diferenças. Incomodavas por isso.
    Os demais entendiam que as diferenças não poderiam conviver em um mesmo campo. Ingleses não misturam-se com brasileiros. Brancos não dividem o “Field” com negros. O pobre é o pobre e o rico é o rico, e assim que as coisas devem ser. Impuseram-te barreiras, normas, regras estúpidas, tudo para impedir-te de cumprir sua razão de ser. Declinastes, então, da disputa em nome de seus princípios. Evidente que tu não aceitarias perder tua essência e tua razão social.
    Mas agradeças aos rivais pela mesquinharia. Agradeças por todas as barreiras impostas. Foi justamente aí que mostraste tua grandeza a todos. Se teu combalido campinho não servia de palco para as pelejas, ergas então teu castelo com as pedras atiradas.
  Se os rivais soubessem que as medidas arbitrárias serviriam apenas para unir-te mais ainda a teu povo, talvez tivessem desistido antes. Tua gente estava disposta a lutar, com ainda mais afinco, em todas as batalhas que viessem pela frente. E foi assim na base da luta e do amor de seus torcedores que construíste teu palco.
   Agora tu eras grande por dentro e por fora. Viraste naquele instante o Gigante da Colina, pronto para conquistar tudo que houvesse para ser conquistado.
    Ainda de olhos fechados, enxergo o Expresso da Vitória. A essa altura tu já eras uma realidade incômoda a todos os rivais. O clube dos pobres e operários venceu na vida, subiu de patamar e arrebatava multidões por onde passava. Conquistaste, em nome do país, o primeiro campeonato Continental de Clubes do Mundo. Tinhas a base da seleção nacional, tinhas Barbosa, um goleiro incomparável a defender-te o pavilhão, Danilo, um meio campo elegante e majestoso a comandar-te e Ademir, um artilheiro mortífero e dominado pelo coração vascaíno.
   A Viagem agora passa pelos anos 70, quando foste o primeiro clube do Rio de Janeiro a conquistar o Brasil, ratificando aos incautos de uma vez por todas a inexistência de limites para ti. O garoto Dinamite explodia o coração dos Vascaínos de alegria, e assim continuaria por muitos e muitos anos.
    Nasceste gigante e mesmo assim não parou um segundo sequer de crescer. Os anos 80 trouxeram consigo mais uma conquista nacional. O apelido dessa vez não era de Expresso, muito embora atropelasses da mesma forma quem cruzava o caminho. Tinhas agora a alcunha de Sele-Vasco. Revelavas nesse tempo um artilheiro baixinho, mais um filho de suas entranhas que ganharia o mundo.
    A década seguinte foi de ouro puro. Todos curvaram-se a ti. As conquistas proliferavam-se ao passo que se proliferavam os talentos. E foram muitos que saíram de tuas fornalhas. Artilheiros como Edmundo, Romário e Valdir; Meias como Felipe, Pedrinho, Juninho e Ramón; Goleiros como Germano e Hélton, dignos de envergar a camisa 1 que um dia fora de Barbosa(O Maior de Todos). A camisa Vascaína não é para ser vestida, é para ser incorporada.
    Foste reconhecido como maior clube de todos por todos, e não somente pelos seus fiéis que sempre souberam disso. Porque tu és o maior não só pela sua coleção invejável de taças e conquistas, és o maior simplesmente pelo fato de ser o que és.
Passaste um tempo no ostracismo, é verdade. Roubaram-lhe de ti a essência democrática e passaste por maus bocados. Trocaram-te a humildade altiva que te é registro, para vesti-lo de arrogância e prepotência, levando-te assim a disputas que jamais foram tuas. Ainda assim, tua gente insurgiu-se novamente para erguer-te e mostrar a ti quem tu de fato és. Um forte, um grande, o Gigante!
    E antes de qualquer crítica pelo atual momento, gostaria de agradecê-lo por tudo, pelas vitórias monumentais, épicas e todas as alegrias, e também pelas derrotas, que serviram para mostrar a mim mesmo que te amo sobre todas as coisas.
     Esses dias perguntaram-me o que eu seria se não fosse Vasco. Ao que respondi: Não é essa a pergunta a ser feita, a correta é a seguinte: E se não fosse o Vasco, o que seria de mim?
Lucas Fernandes

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