domingo, 2 de fevereiro de 2014

Auditoria Vascaína!
Quase um ano após as denúncias no quadro de sócios, Vasco cria uma comissão que avaliará a súbita adesão de novos sócios em abril de 2013.

Quem se lembra de que o Vasco subitamente ganhou mais de 3 mil sócios no final do mês de abril de 2013?  Um recorde absoluto: em apenas um dia, houve mais gente que em todos os outros meses do ano juntos. A avalanche teria motivo: nos bastidores de São Januário, a eleição presidencial de 2014 já havia começado.
O problema era que alguns desses novos sócios nem mesmo sabiam que haviam se filiado ao clube. Outros recusaram cobranças em seus nomes. A adesão em massa apontava na direção das campanhas de dois dos candidatos de oposição - o ex-presidente Eurico Miranda e o ex-vereador e ex-líder de torcida Roberto Monteiro - cujas campanhas estariam promovendo a avalanche de associações e regularizações.
Estaria ocorrendo mensalão no Vasco? O que o benemérito chama de mensalão seria o pagamento de mensalidades por terceiros em troca de votos na futura eleição presidencial.
As últimas eleições no clube têm sido marcadas por denúncias e acusações. O conflito entre os grupos de Eurico e Roberto Dinamite é antigo. Em 2011, o Casaca!, grupo político de Eurico Miranda, fez diversas acusações à gestão do programa de sócios - mostrando carteiras sem foto, além da adesão de associados sem sobrenome ou CPF. Desta vez, não vai seria diferente.
O vice-presidente geral e de comunicações do clube, Antônio Peralta, admite que a entrada de associados nos últimos dias de abril foi "anormal".
O estatuto do Vasco não prevê nem faz qualquer menção a pagamento de mensalidades realizados por outras pessoas. O documento do clube, no entanto, no artigo 81, inciso 1º, diz que compete ao Conselho Deliberativo deliberar a respeito de "reformar este Estatuto e dar interpretação com força de lei, às obscuridades ou indecisões do mesmo, resolvendo, assim, todos os casos omissos".
Nos primeiros meses de 2013, incluindo a época da enxurrada de abril, novas associações eram feitas exclusivamente na secretaria de São Januário. A oposição reclamou que o clube havia fechado as portas para novos associados - algo que foi negado pela diretoria. No dia 27 de maio de 2013, o site do programa de sócios voltou a aceitar adesões, depois da implantação de novo sistema, migrando da questionada empresa anterior Jeff Sports para a Microtag, a mesma companhia que havia acionado o clube judicialmente por quebra de contrato em 2009 e, em razão disso, recebe hoje um percentual de cada nova mensalidade como indenização.
         Para ser sócio e ter direito a voto nas eleições do Vasco, é necessário estar adimplente - pagando mensalidades mínimas de R$ 30, arcar com R$ 100 de adesão e R$ 15 da carteirinha. Logo, o novo associado paga pelo menos R$ 145 de imediato. Para regularização, o sócio geral antigo que está inadimplente paga R$ 100 e as mensalidades desse mês em diante. Caso fique três meses sem pagar a mensalidade, o sócio perde direito a voto.
Os 1.730 associados do dia 30 de abril trouxeram pelo menos R$ 250.850 para os cofres vascaínos. A secretaria, onde são feitas as novas associações, é uma pequena sala com dois postos de trabalho que fica aberta das 9h às 18h. Isso significa que, para filiar 1.730 pessoas num só dia, os funcionários do clube precisariam ter atendido 3,2 pessoas por minuto ininterruptamente durante as nove horas de expediente. Um processo de filiação e, mesmo com o formulário já preenchido, o atendimento básico de cada novo sócio exige, no mínimo, cinco minutos.
O eventual custo de pagar as mensalidades de 3.000 sócios no Vasco por um ano é de R$ 90 mil mensais. Eurico Miranda, apesar de negar o pagamento de mensalidades, reconheceu que existe a hipótese de uma pessoa quitar os boletos de diversos sócios. A avalanche de associações também aponta na direção de Roberto Monteiro.
Roberto Monteiro é vice-presidente do Conselho Deliberativo do Vasco e foi o primeiro a lançar sua candidatura às eleições de 2014, em evento realizado em dezembro do ano passado. Ex-presidente da maior torcida organizada do clube, foi vereador no Rio de 2005 a 2012, mas não conseguiu o terceiro mandato.
Diante das acusações, o Vasco formou uma comissão para as denúncias, demorou, mas finalmente a comissão de sindicância formada por conselheiros do Vasco em 2014 e no último dia 30 de Janeiro enviou as cartas para mais de dois mil novos associados do clube. As correspondências têm como objetivo regularizar o cadastro de sócios que entraram recentemente no quadro social do Vasco - mas, em outras palavras, a intenção é mesmo barrar os eleitores com chance de votos nas eleições para presidente deste ano. A comissão estima que, metade dos cerca de três mil novos associados sequer compareçam a São Januário. Desta maneira o cadastro será invalidado do quadro social do clube.
A demora nas medidas contra o 'mensalão', apelido que o processo ganhou dentro do clube, levou a um dos pré-candidatos a entrar com ação extrajudicial contra o presidente Dinamite e o vice Peralta. 
O documento entregue aos associados prevê um curto período para comparecimento a São Januário. As pessoas devem se dirigir à sede do clube entre o dia 3 e o dia 7, em horário comercial, portando documentos de identidade, CPF e comprovante de residência. A carta avisa que o associado pode ter restituído seu dinheiro de pagamento das mensalidades, em caso da comissão não aprovar sua entrada no quadro social vascaíno.
Ainda sem data para as eleições presidenciais do Vasco, o envio de cartas para barrar novos eleitores pode equilibrar a disputa, que hoje tem ampla vantagem de Eurico e de Roberto Monteiro. O ex-vice de finanças Nelson Rocha, o empresário Jorge Salgado e o presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, já disseram que só concorrem a presidente do Vasco se o mensalão ficar de fora do processo político.

Maay Aveiro

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